8.3.08

Roubaram meu livro

Ainda não posso dizer como é ou o que é viver sem alguém, ou ainda, principalmente, sentir-se faltando algum pedaço de si. Eu ando meio sem assunto, sem conseguir elaborar muitas das conclusões intimistas que tinha no ano passado. Só tenho repetido muito para o meu viver o refrão de uma das músicas de Mika: “ Relax, take it easy!”.

Muito mais que ser deixado, é deixar-se vagar pela imensidão do obscuro. Além do concreto, lidar com o que não se quer, ou quase nada se sabe. Um pouco de alusão à boa literatura alemã, escolhi para esse momento da minha vida ler um livro que havia comprado há uns quantos meses e que se chama “A Menina que roubava livRos”. Aos desavisados informo que o livro é momentaneamente muito adequado ao meu momento de luto, mas trata-se de uma narrativa em primeira pessoa pela mais temida e invencível certeza da vida: A Morte! Essa que me tirou um pedaço do meu existir e também de um certo futuro de segurança e de uma família normal aos meus padrões.

Incrível como algumas coisas nós não podemos impedir que nos afetem, tenho descobrido o quanto eu sou sensível à normalidade e da mesma forma que me sinto uma fortaleza para continuar a viver como se nada tivesse acontecido, um simples olhar de um desconhecido ou ainda, as vezes, um pequeno texto anônimo lido em um bar me faz desabar em choro como uma criança e ainda me sentir vivo. Esta semana mesmo, na quarta-feira fui assistir a estréia de uma peça de teatro chamada “Parque de Diversões”. Um texto excelente, mas que me fez quase que sair correndo do local, porque, momentaneamente a angústia foi tão grande que me fez chorar.

Esse sentir-se vivo é que me faz de uma maneira nunca vivenciada até agora gostar mais de mim do que nunca o fiz. Tenho analisado as sensações físicas que tenho nos momentos que me sinto ofendido ou que me carregam de raiva, repulsa. Essas sensações são motoras do que, agora, sei que não posso permitir-me passar por. Então, de uma maneira ainda empírica, tenho tentado devolver tudo que recebo dos interlocutores. Estou em um momento de ausência de fluido social. Nada me obriga agora (ou ao menos eu acho que nada o faz).

Andei pensando em o que nos move a sentir-se assim, e somente uma coisa me justifica. A necessidade de ficar relaxado para elaborar um sentimento de falta de alguém tão próximo só pode resultar em uma defesa forte frente a tudo que possa fazer-me sentir-se ainda mais triste, irritado, depressivo. Eu fico me sentindo uma fortaleza que precisa solidificar a represa que sustenta a sede dos aldeões, irriga as lavouras do feudo.

OUVINDO: Mika – Life in Cartoon Motion (Álbum)