21.9.08

Café Filosófico - constatações sobre a minha comunidade



Como sabemos que um ser encontra-se em seu estado natural? De modo a definir o processo de mutação social quem de fato é o catalisador da mudança do espírito do ser? Ao longo dos anos qual o papel da tradição nas comunidades sociais?

Desde Aristóteles, supunha-se que, criadas ou não, as espécies naturais fossem imutáveis, e que tão somente estas espécies encontradas e estudadas pelos processos científicos fossem validadas e classificadas. Num estado natural, em oposição as próprias, as validações de pesquisas encontravam como desvios os "degenerados". O degenerado é aquele que se constitui ou se comporta contra a sua natureza. A natureza, neste caso, é resultado de um processo social onde os antigos, todos sabem, faziam da cidade a condição de uma vida plenamente humana, ou seja, onde o homem, dotado de uma linguagem articulada - o logos - tem a capacidade de fundar comunidades em que são definidos o justo e o injusto, os vícios e as virtudes. (Ética a Nicômaco, Aristóteles). Em suma o homem é o criador de suas próprias condições de existência, animado por necessidades, desejos e direitos. Dessa forma a normalidade se torna normativa. Relevante informar que essa norma nada mais é do que produção desse mesmo ser social que produz as mesmas leis que de fato não existem, mas que pautam a tradição que dita a possibilidade de toda forma de vida humanamente aceitável e que se transpõe para o processo oposto ou seja, a mutação do ser social.

Há também o corpo e seus desejos, que participa do mundo e se opõe a todas as coisas do mundo, que é ao mesmo tempo o vínculo e a fissura entre o eu e o mundo; ou de outra forma conceituada o que chamamos de ESPÍRITO. A grande experiência, a ação intelectual, a vida reflexiva que envolve os processo racionais, ou a essência do que já foi citado no blog como fluido social. É a experiência que dá sentido ao homem quando se sai de si para entrar em si mesmo (no sentido comunidade). Paul Valery alerta muito bem quando diz que as verdades estão quase mortas, valores em baixa, esperanças e crenças arruinadas, inclusive a confiança no espírito, confiança que é o fundamento da vida.

Somente o reflexivo processo do ser possibilitou percebermos que o universo e o cosmos não foram criados para o homem e perfeitamente ordenados para este. E sim que se movimenta no campo das idéias. Da mesma forma quando saímos de si mesmos para analisarmo-nos experenciamos a grande cadeia do ser na ordem do mundo e da evolução social. É enfrentando o vazio que chegamos na vergonha. Explico: o medo define a reação do indivíduo a um elemento externo, a grupos e normas que lhe são estranhas, já a vergonha define a relação interna de um grupo no qual a violação das regras compartilhadas desencadeia o temor da exclusão. O relato do resistente (como sobreviventes da 2 Guerra Mundial) tenta provar que ele possui uma sanidade exemplar, oculta na vergonha coletiva. Karl Kraus disse: "o progresso fabrica porta-moedas com a pela humana" e "o verdadeiro fim do mundo é o aniquilamento do espírito".

É possível que nós não sejamos mais capazes de compreender, ou seja, de pensar e de exprimir as coisas que, no entanto, somos capazes de fazer? A sociedade tende a se abolir a si mesma, é o mesmo processo que no espírito do homem abole as idéias!! Tornamo-nos verdadeiramente humanos, quando criamos o mundo das "coisas vagas" entendendo por "coisas vagas" o mundo das artes, da política, do imaginário, da literatura, etc., momento em que saímos de nós para entrar em nós.

OUVINDO: Joy Denalane - Born & Raised (Álbum)

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